sábado, 14 de abril de 2012


Nunca gostei de sonos diurnos e sempre preferi ficar desperta nas madrugadas. É o momento em que posso ouvir o som do silencio que durante o dia o eco dos motores de carros, buzinas, vozes e passos me impedem ouvi-lo. Prefiro o eco do barulho da natureza...onde o grilo trina em notas imediatas, a coruja pia...as folhas se movimentam e seu barulho é como som de um passo de dança abraçada ao vento que entoa o canto.
Gosto do movimento da madrugada, que parece cadenciados nos passos dos transeuntes, gosto dessa coisa de a vida acontecer devagar, sem pressa e sem hora pra acabar, das alegrias do simples, do espetáculo que acontece sem holofotes no encontro entre amigos... dos aplausos, das musicas, da dança...da alegria simples de quem se permite viver...rir e chorar...
Gosto da madrugada, da vida que nasce de um parto dorido, sofrido, mas que é acolhida nos braços da mãe que em contraste entre a alegria e a dor, chora e sorri...e chorando sorri todo seu amor.
Gosto, gosto sim...gosto da vida que acontece sem hora marcada tambem na madrugada, e  que exatamente por ser madrugada parece que não passa, tudo é mais intenso... e mais lento...a hora parece até que se arrasta..nem ela quer passar...quer ficar ali...parada...vi-vendo a madrugada se deixar passar.
Gosto...gosto do namoro na madrugada, quando chega tímido, despretensioso e preguiçoso, mas sedento de abraços, ávidos por beijos, com olhares pidões e corpos exigentes. De mãos que se buscam, das palavras mudas que tudo se falam, do silencio dentro dos quartos  pelos barulhos e ritmos do amor que se faz em gemidos e sussurros, da respiração ofegante que se finda no êxtase de um profundo orgasmo compartilhado.
Gosto do vazio que a madrugada sempre nos traz tão cheio de lembranças. Esse vazio que nunca nos deixa esvaziar a Alma ou o coração. Vazios que em contrastes  sempre vem acompanhados de muita alegria e tristezas... risos e lágrimas... chegadas e partidas... misto de vida e morte que ao mesmo tempo que nos remete ao passado nos localiza num presente desconhecido porque difere as vezes do futuro outrora sonhado. E que assim no faz recriar sonhos, reinventar históras, reescrever enredos, recolorir telas, reaprender a aprender  viver.
Gosto desse vazio que me enche de saudade das pessoas que amo e que mesmo distante se encontram aqui tão junto a mim. Gosto da companhia das lembranças que só a solidão da madrugada me permite desfrutar, quando assim..ao som do silencio recordo o som da voz do filho me pedindo colo quando a chuva batendo na sua janela o despertava  assustado...gosto do som do silencio que ecoa no lembrança dos passos do filho chegando em casa de madrugada querendo não fazer barulho pra não me acordar e passava esbarrando em móveis, deixando cair chaves ou mesmo o barulho do girar da maçaneta da porta que cuidadosamente abrir sem saber que eu estava ali, sentada na sala esperando por ele...rs...
Gosto enfim...ao final da madrugada, pela fresta da minha janela,  assistir a despedida da Lua e receber os primeiros raios do Sol se infiltrando no dia, ouvir o passaro gorjeando nos chamando pra levantar, o sino da Igreja nos lembrando da Presença de Deus outro dia nas nossas vidas, a rotina despertando... e o barulho do recomeçar de um novo dia.
Porque é assim que soam aos meus ouvidos os barulhos dos dias e os sons das madrugadas.
Porque é assim que eu vivo o tempo do dia e os momentos das noites.
Porque é assim que eu sou...nem boemia, nem exentrica...talvez e apenas diferente demais!

O dia nos cobra fortes, decididos, vencedores, orgulhosos... A noite nos acolhe frágeis, indecisos, derrotados, frustrados.
Mas é ela também, a madrugada que nos devolve ao dia, encorajados e fortalecidos. É no silencio da noite que as inspirações surgem, que as ideias (re)nascem e nos faz sentir vontade de viver e fazer valer a vida que às vezes, se faz sobrevivida, na rotina do dia a dia.



Clélia Reino SM - Abril/2011
imagem by: Google

2 comentários:

Alexandre Lucio Fernandes disse...

Lindo! As sensações passeiam pela alma. Gostos revelados ao dedilhar do coração. Perfeito a forma como você desenha esse sentimento que se preenche aos poucos este êxtase que a domina nos pequenos momentos e vai tornando tudo com mais valor.

Gosto disso. Gosto de textos em que eu fico pasmo de encanto, e sem palavras para descrever o que senti. Só sei que gosto do que aqui senti...

Beijo.

ps: oi Clélia! Você comentou na minha página do blog no facebook. E vim aqui por causa do convite que deixaste para conhecer o teu blog. E que bom que vim. Me encantei por tudo aqui. Voltarei mais vezes. Aparece no meu blog. Te espero.

Unknown disse...

Oi Alexandre, obrigada pela visita e pela critica, que só me acrescenta...
Seja bem vindo sempre..e não economize nas criticas...Não as que me faz alimentar o ego, mas as que me ajudam a melhorar o nivel do que escrevo compondo de forma melhor as palavras que deixo extravasar das minhas emoções.
Valeu..bjo bjo