segunda-feira, 24 de outubro de 2011


Revendo minha vida, olhando para trás me fortaleço nas dificuldades que venci, mantenho a coragem nas lutas que sobrevivi e acredito na Fé que me trouxe até aqui.
Eu era linda, tinha algumas sardas, um cabelo longo e negro, e um corpinho natural e saudavelmente magro. Mas naquela época, sardas era ferrugem e ser magra era ser “magrela”, o que permitia às outras crianças me chamarem por vários outros nomes, que a mim nada afetava. Nessa época era famosa... rs..não raro me chamavam de Olivia Palito...sim, a querida e amadíssima namorada do Popeye
Já era Fruta (banana nanica), tudo me soava como brincadeira, hoje isso é bullying.
Cresci feliz e feliz eu sou, embora algumas vezes tenha me sentido entristecida pelas atitudes do outro, mas não precisei de tratamento ou acompanhamento psiquiátrico ou psicológico por essas coisas. A felicidade que eu sempre tive, me protegia dessas “agressões”. Eu era amada pelos meus pais, brincava com outras crianças, convivia com gente não com um computador. Eu fui criança!
Hoje as meninas acham que sardas é charme e sofrem torturando seus corpos para manterem a magreza que na minha época era feia... valores de beleza mudam...
Já sofri discriminação por ser de classe social humilde (sou filha de mãe cozinheira e pai motorista). Que sorte a minha né?!!!Poderia ter nascido filha da puta e ser cria de cafajeste. Mas Deus me deu um pai e uma mãe analfabetos sim, mas de valores que nenhuma universidade pode dar a um cidadão. Valores estes que dinheiro não compra, diploma não confere e ladrão não rouba.
Já me julgaram inferior porque não tenho diploma de Nível Superior... é, isso ainda existe hoje no conceito de muita gente que se julga “intelectual” e “evoluída”. Um dia ainda escrevo sobre esses dois temas: Evolução e Intelectualidade.
Optei por devoção, ser mãe, dona de casa e esposa. Um horror para muitos a minha escolha, mas uma paz e uma alegria para mim.
Eu podia sim, ter escolhido ser professora ( e hj, defendendo o direito de um salário justo dentro de uma sala de aula, correr o risco de ser assassinada por um aluno), ser médica ( e hj recebendo um salario indigno, fazendo jornada de 24 ou até 36hs, testemunhar passiva e impotentemente a morte de pessoas pela falta de condição de trabalho na saúde pública) , ser cientista ( e ter meu diploma enfiado em uma gaveta ou ter q sair do meu país pela falta de incentivo e apoio para pesquisas aqui no Brasil). Eu poderia ainda escolher ser qualquer outra coisa que me tornasse mais “digna”. Mas que sorte a da sociedade, poderia ter escolhido entre tantas opções a de ser Política, corrompendo meus valores, aqueles passados pela cozinheira e pelo motorista e que me fazem ser hoje a mulher/cidadã digna que sou e estaria, quem sabe, somando na fila dos ladrões, corruptos e aproveitadores da boa fé do povo brasileiro.
Sei que sou uma pessoa de personalidade forte, mas isso faz parte das pessoas que não ficam em cima do muro. Tenho minhas opiniões, defendo minhas idéias, tenho atitude
Sou politizada, mas não levanto bandeira. Não sou de esquerda nem de direita. Sou pela Justiça e pela Paz, venha de que partido político vier, terá meu apoio.
Sou família, sou cristã, sou ética, sou correta e não moralista.
Não aprovo e não compartilho de nenhum manifesto preconceituoso racial, social, sexual ou religioso, sei que todos esses preconceitos são filhos da ignorância. Não sou adepta de mentiras, sou avessa a omissão e luto pra que prevaleça a verdade sempre.
Já se aproveitaram da minha boa vontade, mas continuo servindo.
Já fui traída e me deixei trair. Já errei e tentei me redimir, já magoei e me desculpei.
Algumas vezes falei sem pensar e por pensar me calei. Já agredi pra me defender e por me defender também me feri.
Não desisto dos meus sonhos e coloridos sonhos me permito sempre. Ainda acredito no amor, embora ele tantas e muitas vezes tenha me ferido. Mas acredito sim, que existe um amor de verdade, daqueles que te elevam do chão e te colocam mais perto de Deus. Acredito na cumplicidade entre dois olhares, na confiança quando duas mãos se tocam e na segurança quando elas se entrelaçam.
Ainda acredito em passeios românticos observando o por do sol, em banhos de chuva de dois enamorados, em noites de lua inspirando o amor e no amanhecer primaveril dentro dos corações apaixonados em manhãs de inverno.
Ainda acredito na beleza do simples e na grandeza do humilde. Na sabedoria das falas quase sussurradas dos verdadeiros sábios calando as vozes agressoras dos pseudo sábios exclamando as suas verdades.
Hoje, olhando para trás e revendo a minha vida eu vejo que muito errei no caminho percorrido, mas que maiores foram os meus acertos, porque em todas as minhas atitudes eu coloquei amor e vontade de acertar.
Vejo também que muitos me admiram pelo que sou e outros me invejam por eu ser apenas eu, sem me importar em ser para o outro.
Hoje eu posso, olhar para trás e ter a certeza segura pra seguir no caminho que escolhi, porque enquanto me julgam ou me criticam, essas pessoas se fazem gente, eu sigo me fazendo Humana.

Clélia Reino SM - 24/10/2011- Cps(SP)

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